Lembram, o nome do conjunto era Metrô, e dizia coisas do tipo, “Minha mãe me falou que eu preciso casar pois eu já fiquei mocinha…” e vinha o refrão que dizia, “coração ligado, beat acelerado…” Brasil, 1984.

Mal sabia o Metrô, e a encantadora Virginie Boutaud, franco-brasileira, que de verdade nos anos 1980 estavam pautando um dos comportamentos próximos do recorrente quase quatro décadas depois. O de acelerar, tudo. Uma espécie de pináculo da superficialidade. Precisamos saber de tudo ainda que não tenhamos conhecimento ou dominemos o que quer que seja.

A versão 2021/2022 da tal da leitura dinâmica revela-se mais esfuziante do que nunca. Começou durante a pandemia com a garotada assistindo aula de casa, e acionando os mecanismos de aceleração de vídeos.

Aulas normais e gostosas, velocidade normal. Aulas chatas, velocidade aumentada em 50%. Assim, aula de 1 hora em 40 minutos. E aulas insuportáveis, aceleração dupla, aulas de uma hora em 20 minutos.

E aí entra o tal do Já que. Já que faziam isso com as aulas, começaram a fazer nas séries de streaming, reduzindo as séries de 10 capítulos em 5 horas, para os mesmos 10 capítulos em 2 horas e meia. Bit Acelerado! Hoje, e em plena primavera, pessoas no Netflix e demais redes de streaming, assim como no WhatsApp ouvindo tudo corridinho… E aí o Estadão decidiu testar…

Sim é possível, concluiu o Estadão. Guilherme Guerra, repórter da coluna LINK, assistiu um episódio de uma série em velocidade dobrada. Segundo Guilherme, “O episódio fica perfeitamente claro de entender em alta velocidade. Dá para ler as legendas, entender diálogos, absorver imagens…”. Mas, Guilherme adverte, conteúdos mais complexos tornam-se difíceis de entender em alta velocidade…

Em síntese, amigos. Cada um tem o direito, no particular, de enfiar os dois pés no acelerador pela vida. Ouvindo em meia hora conteúdos de uma hora, dançando Ave Maria em ritmo de frevo ou bate-estaca de danceteria, e assistir Morte em Veneza de Luchino Visconti, que tem mais de duas horas, em menos de 30 minutos.

Porém, melhor e mais verdadeiro assistir as antigas comédias do tempo do cinema mudo… Onde tudo era corridinho de verdade.

Em tempo. Tudo o que o mundo precisa e está correndo atrás é de maior velocidade de transmissão e maior capacidade de armazenamento. Quando as cortinas se abrem, as luzes se acendem, e começa o espetáculo, o ritmo da vida e dos conteúdos deveria ser respeitado. Apenas isso.

Mas, para apressadinhos, superficiais e inconsequentes, consagram-se as rapidinhas de todos os gêneros.

Tags:

Deixe uma resposta