“No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra”.

Foi o que nos ensinou, magistralmente, Carlos Drummond de Andrade.

E é isso que as empresas de retumbante sucesso das últimas décadas, até século, não estão entendendo.

Acostumaram-se com os tempos em que as pessoas nasciam, cresciam, prosperavam, e encontravam acolhimento, conforto e segurança nas velhas, tradicionais e consagradas grifes.

Esse mundo morreu. Acabou. As pessoas que nasceram e pertencem ao velho mundo encontram-se, ainda, por aqui, mas são em número cada vez menor, nos salões da vida… Até tocar a última canção, ou, valsa da despedida… O dia em que morreu o último homem elegante da cidade de São Paulo, a loja da Casa Kosmos fechou suas portas no Shopping Iguatemi.

Confira na Wikipédia – “A Casa Kosmos foi uma loja de roupas masculina que funcionou na Rua Direita. Antes da Segunda Guerra seu “naming” era Camisaria Alemã. Referência em gravatas e moda masculina. Camisas com nomes e monogramas bordados no peito, lenços, polainas, cartolas, bengalas, casacas… Mudou-se para o Iguatemi e fechou suas portas em 1970…”. Uma semana depois da morte do último homem elegante da cidade.

Mas, não adianta, a maioria das empresas e negócios continuam acreditando que tudo não passa de chuvas de verão e que, brevemente, tudo voltará a ser do jeito que já foi um dia. Não, nunca mais, como O Corvo de Poe nos ensinou… “Never More…”.

Na tela de computador uma das últimas edições da revista Exame, que tem como editor Lucas Amorim. Como é do conhecimento de todos, e conforme noticiado por sua ex-irmã mais velha, Veja, na tarde de quinta-feira 5 de dezembro de 2019, em leilão realizado na 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, o BTG Pactual comprou a revista por R$72,3 milhões.

Na edição de Exame, e tendo como título, “Não temos obsessão por engajar clientes jovens”, a declaração do francês Arnaud Carrez, vice-presidente sênior e Chief Marketing Officer da Cartier… E que completa, tranquilamente, “isso acontece naturalmente…”.

Vai ficar esperando sentado. Acontecia, não acontece mais. Ou essas marcas consagradas, chiques, ricas, tradicionais, se reinventam, com novas marcas e novos produtos, preservando-se exclusivamente como marca de origem, ou outra designação, ou não restará pedra sobre pedra. Isso mesmo, as pedras sobre as quais falava Drummond.

Essas marcas, todas essas marcas, estão com os dias contados.

Uma das empresas mais poderosas do mundo, que reúne uma coleção de marcas consagradas e de elevado apreço e maior estima e dependência de e por seus clientes, admiradores e seguidores, a LVHM, que neste momento confere a seu maior acionista e líder, a posição de maior bilionário do mudo, Bernard Arnault, segundo Forbes, com uma fortuna líquida de US$240 bi, tem seus anos contados.

Mais adiante, não saberá e não terá o que fazer com as marcas Chandon, Dom Pérignon, Veuve Clicquot, Kenzo, Fendi, Donna Karan, perfumes Christian Dior, Guerlain, Chaumet, lojas Sephora, Krug, Céline, Givenchy, Marc Jacobs, Bulgari, Hublot, Tag Heuer… E outras centenas mais…

Não dirão nada, absolutamente nada para os habitantes do planeta terra na virada do século, exagerando… No máximo, até 2050.

Quem viver, sobreviverá…

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