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Virgin. Veio, não decolou, partiu, voltou e agora vai… Voar!

O ano era 2020. Quem diria o que estava por acontecer. Richard Branson ensaiou bastante, pesquisou mais ainda, antes de decidir trazer uma de suas mais de 100 empresas que levam o nome Virgin em sua denominação para o Brasil. A empresa aérea Virgin Atlantic. Mas, e finalmente, decidiu que a hora era chegada, 2020, e começou a se estruturar para um primeiro voo. Tudo preparado o primeiro voo seria no mês de março de 2020. Passagens começaram a ser vendidas, o tempo foi ficando encoberto, uma tal de Covid-19 foi tomando todo o espaço na mídia, e na vida das pessoas, e, dias antes da primeira decolagem uma espécie de circo montado pela Virgin, sem nem mesmo ter dado um primeiro voo, decidiu desistir, baixar a lona, e partir. Prometendo voltar um pouco mais adiante. E assim, a Virgin, e naquele momento, entrou para a história como a primeira empresa aérea que anunciou, vendeu passagens, instalou-se, e desistiu, sem realizar num único voo. No dia 17 de abril de 2020, e em release enviado à imprensa do país, a Virgin dizia, conforme publicado nos principais jornais, que, “a Virgin Atlantic desistiu de voar ao Brasil. Começaria seus voos em março, teve que adiar o lançamento devido à pandemia, e agora cancela em definitivo os serviços aéreos entre Londres e São Paulo. O primeiro voo previsto para 6 de outubro está cancelado”. E, falando pela empresa, seu porta voz disse, “Cancelar uma rota nunca é uma decisão fácil, e gostaríamos de agradecer a nossos clientes, nossos parceiros comerciais e de mídia, e acima de tudo nossa equipe em São Paulo por trabalhar tanto para nos apoiar nos últimos meses. São Paulo é uma cidade fantástica e estamos extremamente desapontados por não estarmos mais lançando o voo neste momento”. E, ato contínuo, desmontou “o circo”, e partiu, mas, prometendo voltar. Com um número 0800 para resolver o encaminhamento dos clientes que tinham comprado passagem para os primeiros voos. Corta para agosto 2023, e a Virgin, de novo, anunciando-se no Brasil, e com voos regulares para Londres: “São Paulo é muito importante para a estratégia da Virgin Atlantic e marca a entrada na América do Sul. Queremos nos firmar por aqui e crescer em outras regiões…”, Justin Bell, diretor responsável pela Virgin Atlantic em nosso país. Assim como todas as demais empresas aéreas, a Virgin foi ferida mortalmente pela Covid. O segredo de algum sucesso no quase impossível negócio da aviação comercial em todo o mundo é único e converteu-se em mantra: manter os aviões no ar e voando pelo maior tempo possível, ou, avião em terra é certeza de prejuízo. E durante a pandemia, e como é do conhecimento de todos, todos os aviões foram colocados de castigo, sem poder voar, por meses… E as empresas aéreas, todas, esvaindo-se em sangue pela impossibilidade absoluta de realizar qualquer tipo de receita, mas com as despesas mensais batendo à porta no final de cada mês, muito especialmente, as do leasing de suas aeronaves… Ao se despedir dos jornalistas, e confirmar os primeiros voos São Paulo-Londres, Bell informou que existe, finalmente, uma possibilidade de resultados econômicos positivos para 2024. Em 2022, já com a pandemia quase sob controle, a Virgin, assim como todas as demais empresas aéreas seguiu registrando prejuízos. Mais de £200 milhões… Assim, e finalmente, depois de desistir sem mesmo ter realizado um único voo, a Virgin retorna ao Brasil devendo decolar com seu primeiro voo no mês de maio de 2024. Voo diário, ligando Guarulhos SP ao Heathrow, Londres. Salvo prova em contrário, e suporte, ajuda e socorro dos governos, o negócio da aviação comercial segue sendo, de longe e dentre todos os demais, o mais arriscado. Mas, sempre algum maluco beleza, abarrotado de sonhos e alegria, como o genial Richard Branson, tentará provar o contrário… Boa Sorte, Virgin!
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Depois da covid, burnout!

Definitivo. Guardadas as devidas proporções a nova pandemia já em andamento é a do burnout. Um tipo de pandemia decorrente. Decorrente do estilo de vida das pessoas de décadas para cá, estilo esse agravado pela covid-19. No início dos anos 1970, mais precisamente em 1974, e tendo como referência ele próprio, o que sentia e vivia, Herbert Freudenberger autodiagnosticou-se com a Síndrome de Burnout, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde, 35 anos depois, em 2019. O burnout revela-se pela insegurança, sentimento de fracasso extremo, esgotamento físico e mental, decorrente de situações de trabalho em todas as dimensões. Uma espécie de estresse empoderado… Gerando inapetência, fracasso, dor de cabeça frequente, insônia. Mais comuns nas pessoas em posições de gerência, diretoria, comando nas empresas… E assim seguia a vida e veio a pandemia. Até saírem os resultados de uma primeira grande pesquisa realizada pela McKinsey e pela organização Leanin. Tudo muito mais grave e a situação se complica. Aumento generalizado em sua incidência, e maior ainda nas… Mulheres. Em pesquisa semelhante realizada nos anos de 2019 e 2020, detectou-se sintomas da Síndrome de Burnout em 32% das mulheres entrevistadas, e 28% dos homens. Na pesquisa de 2021, de 28% de incidência nos homens, subiu para 35%. Já nas mulheres, o salto foi de 32% para 42%. 7 pontos percentuais a mais nos homens, e 10 pontos percentuais nas mulheres. Ou seja, escalando… Assim, todas as empresas, na chamada volta aos escritórios, defrontando-se com um desafio adicional. De parcela expressiva de seus principais colaboradores em posição de chefia, considerando uma revisão radical em suas vidas. E que não é mais saberem se querem seguir trabalhando presencialmente, ou, a distância… É se querem seguir trabalhando no que faziam antes da pandemia… E essa manifestação nova, para muitos negócios e empresas, é simplesmente devastadora… Pessoas renunciando, deixando o barco, desistindo…
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Sobreviventes realizando os prejuízos, ou três anos cancelados…

No final de 2022, fizemos um primeiro balanço da devastação decorrente da pandemia. Naquele momento, escrevemos, “em decorrência da pandemia, centenas de milhares de negócios fecharam suas portas para sempre”. Nada mais a fazer. Muitos ainda definham. E a maioria, ainda cambaleante, tenta retomar o ritmo em que vinham até o final de 2019. Assim, e agora, com a pandemia aparentemente sob controle, com o comércio voltando a funcionar, a maior curiosidade é sobre em que patamar as atividades retornariam. Os números ainda não são definitivos, mas, as fotografias tiradas revelam que esse novo nível é mais ou menos, dependendo do tipo de atividade, entre 10% a 20% menor do que eram antes da pandemia. E uma recuperação total só acontecerá, e se a economia reagir e melhorar, no final deste 2023. Existe um claro descompasso entre a recuperação do fluxo de pessoas pelas ruas e pela vida, que praticamente já aconteceu, com um correspondente volume em compras que não aconteceu. E enquanto não existir uma explicação melhor, é a de que, em maiores ou menores proporções, quase todos empobrecemos com a covid-19. É como se tivéssemos perdido entre três ou quatro anos de nossas vidas, e fôssemos retomar a partir de dezembro de 2018. Como se 2019, 2020, 2021, 2022, em tempos de cancelamentos, também tivessem sido cancelados. É assim que ingressaremos nos próximos meses de 2023. Não será fácil, mas, não temos outra alternativa que não seja arregaçar as mangas e retomar a vida. Como nos ensinou Gonzaguinha, “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse, meu amor A chama em meu peito ainda queima, saiba, nada foi em vão A cuba-libre dá coragem em minhas mãos A dama de lilás, me machucando o coração Na sede de sentir, seu corpo inteiro, coladinho ao meu… E então eu cantaria, a noite inteira, como já cantei, cantarei, As coisas todas que já tive, tenho e sei, um dia terei A fé no que virá e a alegria de poder olhar pra trás E ver que voltaria com você, de novo, viver, nesse imenso salão Ao som desse bolero, vida, vamos nós, e não estamos sós, veja meu bem A orquestra nos espera, por favor! Mais uma vez, recomeçar…”. Bom dia, ótimo recomeço, e todos mais que arregaçando as mangas, e, fingindo que nada aconteceu… Ou quase nada por que fica difícil esquecer os que partiram… A pergunta que não quer calar. Será que desta vez, vamos, finalmente, construir um Brasil moderno e de verdade?
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Nem mesmo a Santinha escapou do Covid, Ou, cidades dependentes do fluxo

Milhares de cidades pelo mundo dependem de algum tipo de fluxo. No final, claro, tudo bate no fluxo de pessoas, mas, para que ocorra o fluxo de pessoas faz-se necessário que outros fluxos continuem em pé e existindo. Fluxo de produtos, de mercadorias, de serviços, de efemérides, de manifestações, de acontecimentos e muito mais. Para muitas dessas cidades, o adensamento e a diminuição do fluxo faz parte da rotina. Em países, por exemplo, que convivem com temperaturas muito baixas, algumas cidades, e alguns de seus negócios, permanecem abertos poucos meses do ano. Três, quatro, seis, no máximo. E depois fecham porque não vem ninguém. E ainda outras trabalham com meia força durante parte do ano, e força total nos demais meses. E muitas dessas cidades, em algumas semanas, permanecem, como se diz em inglês, sold out, com suas ocupações totalmente vendidas. Isso acontecia e provavelmente seguirá acontecendo em nosso país depois da pandemia, quando a pandemia partir. E assim, e na maioria das cidades de turismo do Brasil, a clássica semana entre natal e ano novo revelará todas as suas possibilidades de turismo e hospitalidade vendidas, as cidades abarrotadas, repetimos, quando a vida voltar. Em plena pandemia, dentre os exemplos mais chocantes, o da cidade da padroeira do Brasil, Aparecida. Literalmente, e com a pandemia, o fluxo descomunal de turistas àquela cidade, a da Santinha, secou. Uma cidade com milhares de pequenos empresários que viviam da presença quase que permanente dos fiéis, com pico nos finais de semana, e até semanas atrás, e, literalmente, às moscas. Fazendo com que o prefeito da cidade, Luiz Carlos Siqueira, do Podemos, e mais conhecido como Piriquito, afirmasse, em entrevista ao Estadão, “Aparecida está Economicamente Destruída”. Dois números traduzem a importância econômica dos fiéis para a cidade. São 37 mil habitantes que dependem – ou dependiam – dos 13 milhões de fiéis que vêm tomar bênçãos da Santinha a cada novo ano. Dos 2,5 mil comerciantes e 600 vendedores ambulantes que trabalhavam todos os dias na cidade, e pagavam licença na prefeitura, no pico da pandemia restavam meia dúzia; dos 150 hotéis menos de 10 permaneciam abertos; e o desemprego na cidade ultrapassou os 80%. Segundo o prefeito Piriquito, “Aparecida quebrou!” Assim, e dentre as marcas do Covid-19, uma das mais fortes traduz-se em, O Dia em que Aparecida quebrou. A padroeira do Brasil, a imagem da santinha, que um dia foi encontrada por três pescadores, Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves, no mês de outubro do ano de 1717, no rio Paraíba do Sul, pesando 2,5 quilos, com 36 centímetros de altura… Da primeira vez que jogaram a rede veio uma imagem sem cabeça, poucas redes depois encontraram a cabeça. Depois da pandemia, assim como a imagem da Santinha, a cidade de Aparecida precisará ser resgatada… E a cidade quebrada, ter todas as suas partes coladas, assim como a imagem da Santinha, e, reconstruída… Oremos, irmãos…
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Reed Hastings, um empresário maduro

Reed Hastings, no ano da pandemia, lançou seu livro e que traduz, em seu título, a maneira como vê a vida e os negócios. Seu livro tem como título, “A Regra é não ter Regras”. E semanas atrás, e diante das produções de sua Netflix terem batido todos os recordes de indicações para o Oscar – de uma única no ano de 2014, a primeira delas, para 35 de 2021 – concedeu histórica entrevista à Veja, revelando o que é ser, de verdade, um novo líder, ou, um líder moderno. Apenas lembrando, Hastings começou apostando na decadente indústria de locação de filmes mediante entrega de DVDs. Enquanto a hoje falida Blockbuster dominava a cena abrindo lojas pelo mundo, Hastings colocou todas as fichas numa tecnologia nova, a do streaming, apostando na escalabilidade da internet em dimensão e velocidade, mas precisava de dinheiro para colocar sua crença em prática. E assim, foi buscar dinheiro na velha e debilitada indústria de locação de filmes, no analógico, montando uma máquina descomunal e inovadora de locar filmes a distância, em todo o país – Estados Unidos –, ganhando muito dinheiro durante bons anos e enquanto a Blockbuster afundava, e colocando esse dinheiro no conhecimento e domínio de um negócio que tinha como base o streaming, daí nascendo e prosperando a Netflix. Repetindo, no início, essa poderosa Netflix de hoje, ganhava dinheiro com os velhos e bons DVDs entregues na casa dos americanos pelo correios, e perdia dinheiro investindo no streaming. Hastings e seus sócios estavam certos. Assim e agora, devidamente consagrado, tendo sido o principal construtor do novo território para onde e gradativamente foram nascendo novas empresas, e mudando-se todas as demais sobreviventes da velha indústria cinematográfica, vê suas produções tomarem conta das principais premiações em todo o mundo. Isso posto, o que de tão fantástico disse esse líder moderno, Hastings, em sua histórica entrevista à Veja? Falou, por exemplo, sobre: O Brasil, nos aprendizados da Netflix – “Aprendemos muito com os brasileiros. O País foi nossa primeira aposta fora da América do Norte. O hábito de ver o que quiser, na hora que quiser e no aparelho de sua preferência caiu no gosto das pessoas de todas as regiões do Brasil. O brasileiro vê filmes em todas as línguas. É impressionante como vocês são um povo aberto…”.O fim dos cinemas – “O efeito da Covid-19 sobre a audiência do streaming é mais modesto do que se imagina. Quando o coronavírus for superado, as pessoas vão voltar a frequentar bares, eventos esportivos, teatros e cinemas. São formas de entretenimento de aproveitar junto com outras pessoas…”.35 indicações para o Oscar – “Nosso negócio é contar boas histórias. E é nisso que nos concentramos. Começamos toda a produção original contemplando e respeitando o ponto de vista das pessoas. É fundamental estar atento e respeitar o que as pessoas adoram compartilhar e falar a respeito. Quando fazemos isso direito, o público se identifica e os eleitores da academia de cinema reconhecem. Prêmio e indicações são decorrência…”. Almodóvar diz que as produções das plataformas de streaming não são cinema de verdade…? “De certa forma concordo com ele. Mas, na prática, a maioria das pessoas acaba vendo os filmes em suas casas. E as duas formas de ver filme podem conviver em harmonia. Mas apenas através do streaming é possível ver filmes que por diferentes razões não chegavam aos cinemas…”. Esse é Hastings. Pensa moderno, aberto, livre, reconhece que tudo é novo e assim tem que ser considerado até converter-se em um business consistente. Seu livro, já no título, mais que define o que pensa, é, e faz, A Regra é não ter Regras… Ou, no original, No Rules Rules… E a essência, a razão de ser, o propósito da Netflix é definitivo, matador, sensacional: “Nosso negócio é contar boas histórias”. E é!
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Conclusões precipitadas, ou, o futuro a Deus pertence…

Lembram-se dessa frase? “O futuro a Deus pertence”? Valia tanto para os crentes como para os agnósticos. A partir de um determinado ponto, e diante das pessoas, empresas, organizações terem esgotado todas as possibilidades, crentes entregavam a Deus, e os agnósticos à sorte e à fortuna. E aí veio a pandemia. Superado o pior momento, todos os dias em todas as publicações, supostos especialistas que se sentem à vontade para dizer como será o futuro. Sobre alguns comportamentos e manifestações é possível formular-se algumas hipóteses. Sobre todas as demais, especulações precárias, pretenciosas, arrogantes, e acima de tudo, burras. Assim, que ninguém conclua o que quer que seja por enquanto. Todos os novos comportamentos e manifestações decorrentes da crise precisarão de um ou dois anos, para conferirmos se vieram pra ficar, ou são apenas resíduos que o tempo elimina. Só depois de superada definitivamente a crise, para aferirem-se suas eventuais e possíveis consistências. Se vieram para ficar, ou foram apenas brisas de verão, ou, soluços da pandemia. Mas, desocupados de todo o gênero desenvolvem as teorias mais irrelevantes possíveis, e desprovidas de qualquer grau de consistência. Tipo, por decorrência do que afirmam com a convicção dos medíocres, a morte dos carrinhos dos supermercados… Meses atrás muito se comentou sobre as tais das “Novas Certezas” sobre tudo e todos. Coisas do tipo, “Novos produtos sem toque é o must daqui para frente…”. Meu Deus, tudo o que queremos e fazemos naturalmente é tocar, pegar nas coisas, nas pessoas, na vida, e agora teremos que comprar todos os produtos apenas olhando: de perto e de longe? Ou, “Provadores virtuais”. Socorro! Simulação de provadores no digital, um horror, mas, ok. Nas lojas, qual o sentido de se ir a uma loja se não pode tocar o produto, provar o sapato ou o vestido, sentir o cheiro do perfume… Nessa linha patética de raciocínio, muito brevemente, essas mesmas pessoas que preveem e advogam essa estupidez nos recomendarão visitar os restaurantes apenas para olhar as comidas, e irmos aos supermercados só para matar a saudade dos tempos em que víamos, mas podíamos pegar e colocar no carrinho, os produtos das gôndolas. Mais ainda, profetizam o fim dos carrinhos! Ou, e ainda, que lojas vão se converter em minicentros ou terminais de distribuição. Esquece, provisoriamente, diante da fragilidade dos Correios, as lojas aproveitam algum espaço vazio para quebrar esse galho, mas, quem comprar a distância, vai querer receber seus produtos em casa, e quem comprar presencialmente, compra e leva consigo na sacola ou saco, ou recebe em casa dias depois como são nas compras de geladeira, fogão, televisores e assemelhados. Loja é loja, e terminais de entrega são serviços completamente diferentes e antagônicos. Ou, agora as pessoas vão trabalhar nas lojas… Parece que não ouvimos ou lemos direito… Mas, é isso mesmo, está em matéria recente no Estadão, “Além de oferecer a oportunidade para o consumidor experimentar produtos, a loja física também pode ser um local para o cliente ter acesso a serviços, como conserto de bicicleta, ou espaço de trabalho com internet ultrarrápida disponível…”. Talvez fosse melhor trabalhar nas árvores, nos galhos mais altos… Sem comentários. Pior que a pandemia da Covid-19, é a pandemia de estultices e ignorância para a qual nem existe e nada se faz para uma vacina urgente. Para ontem.
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Procurando nemos

Ou melhor, taxistas de todas as cidades do mundo procurando por nós, nemos, passageiros. Desde março de 2020, os motoristas de táxi resistentes, teimosos, e muito especialmente os que não conseguem ficar em casa parados caso contrário a cabeça esquenta e acabarão com seus casamentos, saem todas as manhãs à cata de passageiros. Normalmente, e antes de março, e mesmo com a concorrência do Uber e assemelhados, os taxistas de uma cidade como São Paulo terminavam o dia fazendo entre 12 e 22 corridas, e entre R$ 300 e R$ 400 reais de faturamento. Hoje, com sorte, uma corrida de manhã, outra ou duas à tarde, e voltam para casa com menos de R$ 10 no bolso, na medida em que gastaram o restante em alimentação e combustível. Essa não é uma realidade exclusiva de nosso país. Isso vem acontecendo em maiores ou menores proporções em todos os países e principais cidades do mundo. Em Londres, que se notabilizou pela inteligência de ter um único e mesmo modelo para todos os táxis, criado e desenvolvido exclusivamente para ser táxi, facilitando a vida dos motoristas e garantindo o maior conforto para os passageiros, os tradicionais carrinhos pretos, praticamente… Desapareceram das ruas. Diferente do que acontece nas demais cidades onde os táxis são carros comuns convertidos, as empresas proprietárias dos carrinhos pretos, donas das frotas, não têm o que fazer com os milhares de automóveis devolvidos… Falando ao The New York Times, meses atrás, Steve McNamara, secretário-geral da associação de motoristas de táxis licenciados da cidade de Londres, disse, “Somos o único ícone que sobrou de nossa cidade, Londres… E nesse ritmo, teremos desaparecido por completo em no máximo três anos…”. Impossível pensar-se em Londres sem aqueles milhares de carrinhos pretos cruzando as ruas da cidade… Impossível não nos emocionarmos e carregarmos muita tristeza em nossos corações, pelos lugares, pessoas, e momentos queridos que perdemos para sempre nesta terrível pandemia. Fernando Pessoa, décadas atrás, celebrou esses pontos de referências de nossas vidas. Lembram, numa poesia chamada Tabacaria. Dizia: “Cruz na porta da tabacaria! Quem morreu? O próprio Alves? Dou ao diabo o bem-estar que trazia. Desde ontem a cidade mudou. Quem era? Ora, era quem eu via. Todos os dias o via. Estou agora sem essa monotonia. Desde ontem a cidade mudou. Ele era o dono da tabacaria. Um ponto de referência de quem sou. Eu passava ali de noite e de dia. Desde ontem a cidade mudou. Meu coração tem pouca alegria, E isto diz que é morte aquilo onde estou. Horror fechado da tabacaria! Desde ontem a cidade mudou. Mas ao menos a ele alguém o via, Ele era fixo, eu, o que vou, se morrer, não falto, e ninguém diria. Desde ontem a cidade mudou…”. É isso, amigos. Segue a vida. Mas vamos sentir muitas saudades de todas as referências que perdemos nos últimos 18 meses. E sem essas referências, mesmos vivos, também morremos um pouco. Nós, sobreviventes da Covid–19, daqui para frente e para sempre, com a sensação de que esquecemos ou perdemos alguma referência pelo caminho, que está faltando um pedaço em nós. Quem sabe um dedo… Talvez uma perna inteira… E volta e meia nos distraindo e desejando parabéns e muitos anos de vida nas redes sociais, para queridos amigos que não moram mais aqui, mas nossa memória, sabe-se lá por quais razões, recusa-se a dar baixa.
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A debandada dos imóveis comerciais

Faltava um pretexto. Ou, se preferirem, uma razão definitiva. E assim, o que estava previsto para acontecer mais adiante foi antecipado pela pandemia. Muitas funções nas empresas sempre foram realizadas a distância. Há mais de 50, 60, 80 anos… Utilizando-se os Correios, telefone, telex, e tudo o mais. Eram os milhares de vendedores que passavam dias, semanas, meses e anos viajando por todos os cantos deste país continental que é o Brasil. E a cada nova cidade mandavam os pedidos por cartas, telex, e tudo mais. De 2000 para cá passaram a mandar pelo digital, recorrendo à internet, tablets, celulares, smartphones. Mais adiante, as empresas de telemarketing, que empregam centenas de milhares de brasileiros, decidiram-se mudar das mesmas localidades das empresas para as quais prestavam serviços, para outros locais e cidades com farta mão de obra, de infraestrutura adequada de comunicação, e onde o vale refeição fosse menor. E assim, as empresas de telemarketing foram deixando os grandes centros. E nesse ritmo, e gradativamente, outras funções passíveis de serem realizadas a distância seguiram o mesmo caminho, mas, em ritmo lento e moderado. A pandemia acelerou tudo. E, assim, todas as funções que podem ser realizadas a distância, porque são mecânicas e operacionais sem maiores preocupações de estratégia, planejamento, reflexões, onde a presença física não é essencial, não voltarão para as matrizes e filiais das empresas. Permanecerão a distância. Com pessoas trabalhando para sempre em home office, e para tanto terão que ser treinadas, capacitadas e aparelhadas. Conclusão, o esvaziamento dos edifícios corporativos que só aconteceria pra valer na década de 2030 foi antecipado em 10 anos, e revela-se robusto e poderoso agora, em poucos meses, e no final ou controle da pandemia com a vacinação. Drucker, décadas atrás dizia de sua estupefação diante de empresas obrigarem seus funcionários de 80, 90 e 100 quilos passarem de duas a quatro horas de todos os dias empoleirados nos transportes coletivos, quando tudo o que as empresas precisavam eram de seus cérebros que pesam menos que 3 quilos. A Covid-19 determinou, agora, essa mudança definitiva. Conclusão, o esvaziamento dos edifícios corporativos nos grandes centros do Brasil é exponencial e muito maior do que admitem os proprietários de imóveis. Os proprietários mais sensíveis se deram conta do tsunami que vem pela frente e rapidamente antecipando-se, propõem reduções de até 50% nos aluguéis para preservar as empresas locatárias, e não terem que assumir o IPTU e o condomínio. Mas muitos ainda não se deram conta, e, muito rapidamente, verão suas propriedades vazias. Talvez, para sempre. Alguns dados que mais que documentam essa nova realidade. Entre os meses de abril e setembro do ano passado, apenas na cidade de São Paulo, foram desocupados e devolvidos 122 mil metros quadrados dos chamados edifícios classe A. Desse total, 73% ocupavam áreas com menos de mil metros quadrados. Na média, os aluguéis despencaram mais de 30%, e ainda continuam em queda devendo encontrar uma situação de nova realidade com uma queda final entre 50% e 60%. Grandes empresas começaram 2021 anunciando devolução da maior parte dos espaços que ocupavam. Dentre essas, e no Rio, a Vale. Dos 15 andares que ocupava na Torre Oscar Niemeyer, no Botafogo, devolvendo 11, numa primeira redução. Em São Paulo, mais da metade de todas as grandes empresas estão devolvendo, entre 30% a 70% dos espaços que ocupavam no início deste ano. Em janeiro de 2022 teremos enormes dificuldades em nos lembrar como era o mercado de imóveis corporativos 24 meses antes, janeiro de 2020, vésperas da coronacrise… É isso, amigos. Conviveremos nova década com milhares de metros quadrados e edifícios corporativos tentando revocacionarem-se em busca de novas utilizações. Dentre outras, e como já comentei com vocês, convertendo-se em hortas urbanas. Já que a pecuária urbana demora um pouco mais.
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Os novos hospitais

Os velhos e tradicionais hospitais, como a maioria continua sendo até hoje, ocupavam um prédio central ou em lugar de fácil acesso, prédio esse que, no correr dos anos, ia ganhando ampliações, compra dos terrenos vizinhos, novos prédios, e assim foi durante décadas. Aqui, na cidade de São Paulo, essa é a história do Einstein, Sírio, Oswaldo Cruz, Samaritano, 9 de Julho e praticamente todos os demais hospitais que nasceram no século passado. Não cresciam para novas distâncias e lugares. Cresciam a partir e em torno da base. Nas tabuletas lia-se, “obras de expansão de nossas instalações…”. E aí veio a tecnologia, a mobilidade, e tudo e todos passando por releituras radicais diante das novas realidades e se recriando, mais que reformando. Recriando mesmo. Não do zero mesmo porque uma boa parte continua fazendo sentido e pode ser aproveitada, mas recriando em termos de metodologia de planejamento, e visão estratégica. A mais que saudável descoberta que não se faz mais planos para o futuro olhando e projetando o passado. Exatamente o contrário. Primeiro se define o que e como se quer ser em 2040. E, depois, o planejamento é um caminho que se constrói de frente para traz até chegar-se aos dias de amanhã. Não pensando em como foi e é até agora e depois ir se modernizando. Mas olhando mais adiante, pensando como terá que ser, e só depois, considerando tudo o que tem que ser feito. Assim como as novas farmácias, que começam a brotar nas áreas centrais das grandes cidades brasileiras, os mais tradicionais e respeitados hospitais de nosso país seguem em processo acelerado de recriação. Que em verdade começou a acontecer a partir da virada do milênio. Em São Paulo tinha o Sírio, por exemplo, que ficava numa única e tradicional unidade, quase na 9 de Julho. Hoje o Sírio sob diferentes formatos e novas formas de prestação de serviços vai se espalhando pela cidade. Tinha o Beneficência, apenas Beneficência, que foi expandindo, reinventando-se e multiplicando. O mesmo aconteceu com o Samaritano, com o Oswaldo Cruz, e com o Einstein. Como com todos os demais, em maiores ou menores proporções. Semanas atrás, o Einstein, que não para de crescer e se multiplicar, anunciou mais uma novidade. Começa a atender em aeroportos. Uma medida que já constava de seus planos, e agora num mundo onde os viajantes muito provavelmente terão que correr atrás das vacinas, muitas vezes nas horas que antecedem a uma viagem, e mais todos os atendimentos que se fazem necessários num local por onde passam milhares de pessoas todos os dias, nasce o Einstein GRU, Guarulhos. E, no ano que vem, nasce o Einstein Galeão. E não nasce pequeno. Desde o primeiro dia oferece os serviços de testes do Covid-19, com resultados em 4 horas, e evitando que esses passageiros cheguem ao lugar de destino e passem 15 dias trancados em quarentena obrigatória. O Einstein GRU nasce com 65 profissionais entre médicos, enfermeiros e clínicos de laboratório. É isso, amigos. Enquanto as farmácias assumem mais e maiores responsabilidades ao lado de nossas casas, com muitos e novos serviços, o mesmo acontece com os principais hospitais que nos fazem companhia e agora e também, no chamado bota-fora. Lembram-se da música “Nos Bailes da Vida”, que o Milton Nascimento canta, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. É o que prevalece no mundo novo em processo de construção. Ir, presencialmente, ou, garantir o acesso, pelo digital, mais delivery. Agora somos assim.
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“Já Que”: O vírus mortal no ambiente corporativo

Em meio à pandemia, e na sucessão das novidades no ambiente corporativo e dos negócios foi identificado um vírus mortal. Com poder de contaminação nas empresas tão ou mais devastador que o Coronavírus nas pessoas. Trata-se do vírus “Já Que”. Já que faço isso, porque não fazer aquilo, mais aquilo, aquilo outro também… E… Tudo! Semanas atrás se sentia no ar uma tendência de todos decidirem ser e fazer tudo. Da virada do ano para cá se constata a presença desse vírus numa dimensão e intensidade inimagináveis. Todas as vezes que o vírus foi diagnosticado a semelhança é total no processo de contaminação. Acontece no exato momento em que um outro vírus – o da estupidez –, inocula-se nas empresas. Os sócios, diretores e profissionais da empresa passam o tempo todo olhando para dentro, e, olhando para fora. “Fulano, você viu o que a empresa A fez? Agora, e além dos produtos e serviços que vende, está vendendo muitos e outros produtos e serviços também… Será que não poderíamos aproveitar e também fazer o mesmo?” E aí a galerinha ou galerona de tecnologia, preocupada apenas com o faturamento decorrente de milhares de horas a mais de programação, respondem, com empolgação – “claro que dá. Se quiser podemos começar a adaptar agora a nossa plataforma que foi desenvolvida para vender geladeira para também vender banana, automóvel, casas e apartamentos, planos de saúde, ingressos para o futebol, Bíblia, urinol e jaca…”. É o vírus do Já Que. Já Que faço isso, faço aquilo, aquilo outro também, e o que não faço posso fazer… Todos vendendo tudo! Decidimos fazer o “Já Que Teste” nos jornais de um dia qualquer. Abrimos no caderno econômico em busca de manifestações do vírus Já Que. Manchete, Bancos Digitais avançam em parceria com o varejo. Não vamos transcrever todas as manifestações da presença do Já Que em poucos parágrafos, mas separamos algumas. “O C6, banco digital, acaba de abrir seu Marketplace.” Seus clientes têm cartão de crédito e débito, e Já Que vão acionar o banco podem muito bem aproveitar e fazer suas compras no próprio aplicativo – marketplace – do banco. Diz o C6 no texto, “A estratégia é fazer dinheiro com a recorrência, aproveitar as várias visitas dos clientes do cartão ao banco para oferecer produtos e serviços… Nossos clientes entram em média 21 vezes por mês para consultar saldo, fazer pagamentos e transferências… Nosso marketplace – diz o C6 – atenção amigos, o marketplace de um banco, socorro! – têm 40 mil itens entre vestuário, eletrônicos, pet shop, livros, mediante parceria com o Magalu e agora pretendemos integrar supermercados e farmácias…”. Já o Já Que também contaminou o Banco Inter… Está na mesma matéria do Estadão, “O Banco Inter que no mês passado recebeu um aporte de R$ 1,2 bi quer usar metade dos recursos para aquisições de ponta, como um marketplace, por exemplo…”. E por aí vai. Não se fala em outra coisa. O Já Que, muito em breve, provocará um fastio e revolta monumental dos clientes, pessoas, nós. Usaremos uma espécie de máscaras-filtros todas as vezes em que acessarmos um aplicativo do que quer que seja, nos prevenindo dos aplicativos JQMP – Já Que Marketplaces. 100 anos atrás faltava tudo, nós éramos colocados em fila, brigávamos por senhas, para um dia, quem sabe, termos acesso a um produto. Dos anos 1990 para cá com a multiplicação ao infinito da concorrência saímos das filas e fomos tratados, pela parcela das empresas modernas, competentes e sensíveis como reis. E agora, na corrida desembestada de milhares de empresas contaminadas pelo Já Que, estamos sendo atropelados, desrespeitados, invadidos, por serviços precários. Se para a Covid-19 e a decorrente pandemia, alguns mecanismos preventivos foram se revelando e sendo adotados, para a Pandemia do Já Que a solução é muito mais fácil e está na ponta dos dedos. Delete. Delete para sempre. As milhares de empresas que no apetite desmesurado, pantagruélico de abraçar o mundo, Já Que abrimos a porta de nossas casas para elas, agora tentam enfiar goela abaixo de todos nós, com serviços de péssima qualidade, desde camisinha, passando por filé mignon, cartão de crédito, xarope São João, pen drive, palito de fósforo, macarrão, mega-sena, Chuchu, berinjela, pinga, alface, Biotônico Fontoura, e, Rum Creosotado, lembram?. “Veja ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado. E, no entanto acredite, quase morreu de bronquite, salvou-o o Rum Creosotado…”. Isso posto, mais que na hora de lançarmos baldes e baldes de Rum Creosotado nos milhares de empresas Já Que que atormentam nossas vidas, e caminham inexoravelmente para um mais que justo e merecido fracasso. O Já Que leva a pior das mortes. Sem dor, sem sofrimento, apenas milhares de empresas que passam a ser, mais que merecidamente, ignoradas pelos clientes. Clientes que confiaram nelas pela qualidade de suas especializações, e essas empresas, alucinadas, agora abusam tentando vender tudo, de todos, de forma porca e indiscriminada e medíocre. Parafraseando Mario Quintana, todas essas empresas aí Já Que, atravancando nosso caminho, computadores e smartphones, enchendo nossa paciência: “Elas passarão… Eu, passarinho!”