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Negócio

HU – A – WEI, aprendam a falar, acostumem-se com essa marca…

É suficiente proceder à leitura naturalmente. “HU A WEY!” Vem aí uma das maiores guerras de todos os tempos. E uma das principais empresas protagonistas – talvez a maior de todas – é chinesa que nasceu há pouco mais de 20 anos. Ren Zhengfei passou sua infância e adolescência numa cidade de montanhas, parecida com Campos do Jordão, e na província de Guizhou, China. No ano de 1963, 19 anos de idade, passa a estudar no consagrado instituto de engenharia civil e arquitetura de Chongquing, o que faz com que muitas pessoas coloquem em dúvida sua origem humilde. Ren, responde, “tínhamos sal para cozinhar, por essa razão pensavam que éramos ricos…”. Toda a primeira parte de sua vida profissional trabalhou como engenheiro de tecnologia militar no Exército de Libertação Popular, braço armado da China comunista. Assim, e com mais de 40 anos, decide empreender. Batiza sua empresa como Huawei. Hua de China, poderoso, flor. Wei de Ação. China, Flor Poderosa em Ação. Mais ou menos por aí. Ou, se preferirem, um sonoro Grito de Guerra. “H-U-A-W-E-I!”. Ren é produto da Nova China, a de Deng Xiaoping, após a morte de Mao Tse-Tung. No início a Huawei importava PBX de fabricantes de Hong Kong. Meses depois passa a produzir seus próprios modelos, tendo em pequenas empresas seus principais clientes. Cria a área de pesquisa e desenvolvimento no início dos anos 1990, e qualifica-se como um dos principais fornecedores do governo chinês em seu território de atuação. Há 23 anos, 1997, Ren decide conhecer alguns dos principais players do território de atuação da Huawei. E constata a grande distância que sua empresa encontrava-se. No ano seguinte fecha uma parceria com a IBM, e de quem recebe os serviços de consultoria com o objetivo de converter-se em importante player no mercado mundial. Antes da virada do milênio monta seu primeiro laboratório de pesquisa na Índia. Mergulha sua Huawei em transmissão e telefonia. Investe em redes e conectividade. Aos poucos instala novos laboratórios na Holanda, Canadá, Estados Unidos e Suécia. Cria a divisão mobile em 2003. O primeiro produto é o C300. Em 2005 sai na frente com um modelo próprio de 3G. Pontifica pelo binômio qualidade e preço. Ingressa nesta década já considerada como uma das 3 maiores fabricantes globais de smartphones. O Huawei C8500, alcança a marca de 1 milhão de unidades vendidas em menos de 100 dias e apenas na China. O resto é história. Ren Zhengfei, seu principal acionista, tem menos de 2% do controle da empresa. Meses atrás, Dezembro de 2019. Huawei convida jornalistas da América Latina mais Espanha para uma primeira entrevista de Ren. Maria Cristina Fernandes, do jornal Valor, encontra-se presente. No relato de Maria Cristina às 13:55 Ren chega para a entrevista. Diz Cristina, “Ex-oficial do Exército de Libertação Popular nos anos 1980, quando a China decidiu reduzir seus feitos militares, Ren, 75 anos, permanece integrante do partido comunista que aproxima-se de superar o antigo da União Soviética em permanência no poder.” Ren abre a entrevista afirmando, “Os Estados Unidos tratam a América Latina como seu quintal. Nosso objetivo é ajudar o continente a sair dessa armadilha e manter a soberania dos países”. Deu pra entender a dimensão da encrenca que vem pela frente?! Um dos principais empresários da nova China enfiando o dedo nos Estados Unidos e fazendo uma acusação de tamanha gravidade. E, numa espécie de declaração de guerra vai detalhando… “A América Latina foi colocada numa armadilha desde a doutrina Monroe…”.“A China investe na América Latina, mas a soberania permanece com cada país…”. O discurso de guerra de Ren está tão ensaiado que tem manifestações específicas para cada um dos países presentes, como – diz Ren em relação a nosso país…“O Brasil é um grande país. Não entendo porque Deus deu tanto a um único país. Sempre fico impressionado quando vou ao Brasil com as riquezas naturais…”. “Com distribuição de riqueza pelo governo e o desenvolvimento tecnológico das empresas, o brasileiro poderá se dedicar mais ao samba, que nunca poderá ser substituído pela inteligência artificial…”. Uma afirmação meio para boba ou ingênua, de certa forma até, e para alguns desrespeitosa, mas forte, consistente, e cá entre nós, verdadeira. Portanto, amigos, a guerra está apenas começando. Vamos acompanhar todos os dias, detalhe por detalhe porque todos nós e nossas empresas, em maiores ou menores proporções, seremos impactados. Mesmo sendo uma guerra silenciosa, ainda que cruel, em alguns momentos muitos movimentos acontecem de forma clara e ostensiva, até porque terão como objetivo conseguir a simpatia da opinião pública. No ano passado, por exemplo, e quando Ren encontrava-se na Argentina, sua filha Meng Wanzhou, principal executiva financeira da Huawei foi detida em Vancouver, Canadá, sob acusação de ter violado as sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos. A partir desse movimento mais ostensivo, seu pai, Ren, tem evitado sair da China. E assim, e na guerra de comunicação que só cresce e sobe de tom, e na medida em que não sai mais de seu país, Ren leva a imprensa mundial a seu encontro. Desde a prisão de sua filha e até o final de dezembro de 2019, a Huawei já levou mais de 3000 jornalistas do mundo inteiro a sua sede para conhecer sua visão, opinião, posicionamento e planos. Todos os encontros estão documentados e convertem-se em livros. Até agora três livros: “Entrevistas à Imprensa – Palavras de Ren”. No final da entrevista, segundo Maria Cristina Fernandes do jornal Valor, “Zen repetiu a ideia de que os equipamentos de sua empresa não têm ideologia, apenas conduzem informação. No correr das duas horas de sua entrevista disse ser a Huawei totalmente independente do governo chinês, e repetiu… A CHINA QUER CONTRIBUIR PARA A AMÉRICA LATINA, E QUE É O MELHOR LUGAR DO MUNDO…”. Na nossa infância, nós, os mais velhos, acostumamo-nos com o bordão dos domingos que dizia: Silvio Santos Vem Aí… A China já chegou e, aconteça o que acontecer, existe uma nova história do mundo sendo escrita…