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Saudades de Abilio

Mesmo tendo partido há poucos dias, a imensa saudade permanece viva e tomando conta de todo o ambiente. Um empresário único, espetacular, referência obrigatória para todos que considerem empreender. O que, em verdade, considerando-se o Fim dos Empregos, e todos convertendo-se em Profissionais Empreendedores, referência para todos. Dentre as manifestações pelo seu falecimento, centenas ou milhares, um anúncio assinado pelo GPA – Grupo Pão de Açúcar. Fica a curiosidade, quem teria tomado a iniciativa de fazer o anúncio, quem teria pago, considerando-se o rompimento dramático que Abilio teve com o Grupo Casino. Diz o anúncio, publicado no Estadão do dia 20 de fevereiro, “Obrigado Abilio! Sua liderança genuína persistência e pioneirismo, somados às suas qualidades humanas e paixão pelo trabalho, farão parte para sempre de nossa história. Levaremos com respeito seu legado, que contribuiu significativamente para a formação e desenvolvimento dessa empresa, e a consolidação do varejo brasileiro. Que sua memória seja honrada e seus ensinamentos continuem nos inspirando. Assinado pelo GPA – Alimentando Sonhos e Vida…”. No mínimo curioso e intrigante. Abilio parte no exato momento em que o Grupo Casino, dono do GPA, vive sua maior crise, e colocou o GPA à venda. Imagino que o anúncio tenha sido uma iniciativa da direção local, e em nome dos milhares de profissionais que seguem trabalhando na empresa. Enquanto isso, o Carrefour que caminhava tão bem… Leio, perplexo, matéria no Estadão, falando sobre os planos de diversificação do Carrefour. Quer aproveitar alguns terrenos grandes que possui – 50 – para interessar outras empresas a implantar complexos multiuso em torno de suas lojas. Por enquanto, e segundo a matéria, são 50 projetos multiusos… A sensação que fica é que, para as pessoas que desenvolveram esse planejamento, o futuro é uma linha que começa no passado, atravessa o presente, e encaminha-se, naturalmente para o futuro. Foi, não é mais. E, portanto, a consistência desses planos é semelhante a uma pétala de uma rosa, cravo, margarida, ou uma folha de um trevo de quatro folhas… O subtítulo da matéria é revelador do desvario: “Varejista tem 50 projetos de complexos multiusos, com moradias, salas comerciais, hotéis e parques, para serem desenvolvidos nos próximos dez anos em seus terrenos…”. Dois dos muitos terrenos já foram vendidos para a incorporadora Riva, do Grupo Direcional, e que pretende erguer prédios residenciais ao lado dos supermercados da rede… Durante todo o século passado, com algumas interrupções em virtude das duas Grandes Guerras e outros movimentos sociais de porte, planejar-se o futuro era quase que projetar o passado e a probabilidade de fracasso era mínimo. Hoje, repetir-se essa receita, é, com raríssimas exceções, certeza de fracasso na certa. E aí vocês nos perguntam, porque as empresas insistem…? Porque e ainda leva tempo, para a maior parte de seus dirigentes entenderem a dimensão da disrupção que segue acontecendo em nossos tempos. Ainda, e desgraçadamente, os planos de novos negócios e empreendimento seguem sendo feito em pequenos cubículos mal iluminados, diante de uma nova realidade. Na maioria das organizações ainda, seus dirigentes não conseguem adotar o procedimento que nosso mais que adorado mestre e mentor Peter Drucker recomendou, advertindo, “Antes de colocar todos os novos gadgets, inovações, descobertas e conquistas na velha moldura que temos em nossas cabeças, primeiro jogar a velha moldura fora”. E não é fácil e exige muita coragem, desprendimento e sensibilidade proceder-se a essa recomendação. Por essa razão, e ainda hoje, 2024, mesmo o tsunami tenha começado entre os anos 1950 e 1960, na maioria das decisões, a velha moldura continua prevalecendo. E assim testemunhamos, patéticos, a recorrência de erros monumentais das empresas que, inconsciente e naturalmente, continuam planejando seus futuros com os olhos grudados no retrovisor.
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Chega uma hora cansa. Melhor assumir e realizar prejuízos do que persistir

Naquele momento, Warren Buffett, declarou, “Decidi vendermos todas as ações que possuíamos das quatro empresas aéreas…”. Depois de anunciar um prejuízo histórico de US$49,7 bilhões, justificou-se: “Durante anos evitei investir em empresas aéreas. Em 2016, não resisti e investi um bom dinheiro de nossos investidores em quatro empresas aéreas. Errei feio. Não deveria ter investido nem na American, Delta, United, Southwest e em nenhuma empresa aérea. É um risco gigantesco e desproporcional…”. Semanas atrás, uma decisão semelhante de um bilionário – o maior da França, Bernard Arnault. Bernard decidiu pular fora do Carrefour. A Financière Agache, empresa holding controlada pelo bilionário Arnault, detinha 5,6% do Carrefour. Essa relação começou 14 anos atrás, quando Arnault comprou essa participação, 2007, pagando €47 por ação. Semanas atrás vendeu tudo por €16 a ação. Realizando um prejuízo monumental. Conforme tenho comentado com vocês o Carrefour vai muito bem no Brasil e em outros dois ou três países. Em todos os demais, muito especialmente na França, é um desastre, e a tendência é afundar mais ainda. Apenas lembrando, no dia 30 de março de 2016 a Península, holding de Abilio Diniz, anunciou mais uma aquisição de ações do Grupo Carrefour, totalizando 8% de todo o capital do grupo. Aguardava-se para as semanas seguintes alguma movimentação da Península, diante da mudança de posição de Bernard Arnault. E aconteceu. Abilio assumiu o erro do investimento, realizou um gigantesco prejuízo, e, segue a vida. Como dizia a música cantada pela Elis Regina, e do Guilherme Arantes: “Vivendo e aprendendo a jogar Vivendo e aprendendo a jogar Nem sempre ganhando Nem sempre perdendo Mas aprendendo a jogar”. Uma vez reconhecido o erro, mudadas a situação e as circunstâncias, e diante de uma nova realidade, nenhum investidor deve vacilar e insistir no erro. Realizar o prejuízo – o mais rápido possível – pular fora, e ir em busca de novas, melhores e mais consistentes oportunidades. Como fez Warren Buffett, como fez Bernard Arnault, como fez Abilio Diniz.