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Moram longe, morrem cedo, e, com a pandemia, piorou…

Uma das mais trágicas e cruéis fotografias da pandemia refere-se aos bairros periféricos, distantes e as pessoas pobres da cidade de São Paulo. No chamado Mapa da Desigualdade, uma compilação e trabalho da Rede Nossa São Paulo, em todos os últimos anos e dentre muitas constatações e verdades, a consciência das decorrências de um mundo, país, cidade, muito especialmente a cidade de São Paulo, tão desiguais. Segundo o Mapa da Desigualdade, dependendo do bairro onde uma pessoa mora na cidade de São Paulo, pode viver 20 anos mais, ou 20 anos menos. Assim, e apenas como exemplo, os residentes de um Jardim Ângela vivem na média 55,7 anos. Enquanto os moradores dos Jardins vivem 79,4 anos. Arredondando, Os moradores dos Jardins vivem 24 anos a mais do que os moradores do Jardim Ângela. Essa era a realidade antes da pandemia. Agora, com a pandemia, a situação agravou-se. Especificamente nos mortos em decorrência da pandemia, os moradores de um Jardim Helena, por exemplo, têm um índice de morte por 100 mil habitantes da ordem de 188,5. Já os moradores do Jardim Paulista, 48,1. Ou seja, quem mora nos bairros mais distantes, tipo Jardim Helena, Lajeado, Guaianazes, São Miguel, tem uma probabilidade quatro vezes maior de morrer de Covid do que os moradores dos Jardins, Alto de Pinheiros, Moema, Perdizes… Até quando sobreviveremos com tanta desigualdade?
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Apostas arriscadas, ou, o certo na hora errada

Vez por outra, algum grande empreendimento imobiliário na cidade de São Paulo gera grandes expectativas e provoca impacto colossal. Décadas atrás, anos 1970, o Portal do Morumbi, do visionário Alfredo Mathias, afrontou tudo o que se sabia sobre imóveis residenciais. Insinuou o conceito de condomínio clube. O projeto certo muito antes de seu tempo. Levou quase duas décadas para ser vendido, criou problemas para seu financiador Unibanco, e 20 anos depois era o empreendimento mais cobiçado, valorizado e imitado da cidade de São Paulo. Tornou-se benchmark, referência, e centenas de condomínios clubes multiplicaram-se pelo Brasil. O mesmo aconteceu recentemente com o empreendimento da vida da Tecnisa, o Jardim das Perdizes. Que, infelizmente, começou sem necessidade diante da qualidade do empreendimento, fazendo uma lamentável gambiarra. Localizando, nos anúncios e comerciais, no simpático e valorizado bairro de Perdizes, rebatizado de Nova Perdizes, um empreendimento que de verdade está localizado num bairro mais emblemático ainda, e de maiores tradições, a mais que querida e legendária Barra Funda. Costumavam dizer nossos avós que quem renega os seus degenera, e aparentemente isso aconteceu com o Jardim das Perdizes. O empreendimento certo, que por, e fatalidade, decolou na hora errada. E quase arrastou a Tecnisa junto. E no ano passado, 2020, e finalmente, um mega empreendimento engasgado há mais de 10 anos, finalmente é lançado. Sob a denominação de Parque Global. Um terreno gigantesco, na Marginal Pinheiros, de 121 mil metros quadrados, com um VGV – valor geral de vendas – que totalizará, caso se realize, R$ 8 bilhões. Cinco torres residenciais, shopping center, mais complexo de saúde, mais hotel, assinado e sob a responsabilidade do Grupo Bueno Netto, com uma série de importantes parceiros. Ameaçou decolar em 2013, as primeiras torres residenciais foram lançadas, mas o empreendimento foi embargado. Dois elevadíssimos riscos no empreendimento. Não pela magnitude. O primeiro, conjuntural, chega ao mercado exatamente em meio à pandemia. O que, em nosso entendimento, coloca em questão e muito a localização do mega terreno. Na Marginal Pinheiros, a poucos metros do rio poluído, e com permanentes reclamações das torres vizinhas sobre as nuvens de pernilongos e outros insetos. Ainda que a prefeitura prometa um rio limpo e navegável até o final de 2022. Mas a segunda, e mais preocupante de todas, a estrutural. Um mundo novo em processo de construção, devastado pela disrupção tecnológica, e onde esse tipo de empreendimento tem tudo a ver com o passado, e nada, absolutamente nada a ver com o futuro. Das empresas, das famílias, e dos viajantes e turistas. Tomara, pela dimensão do empreendimento, que nós, consultores da MADIA estejamos enganados em colocar tantas dúvidas sobre um eventual sucesso do Parque Global. A propósito, o naming, a denominação escolhida, não faz jus à ambição do empreendimento.