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Blog do Madia

Diário de um Consultor de Empresas – 29, 30 e 31/07/2023

Preconceito e Discriminação nas páginas do NEW YORK TIMES
Negócio

Era uma festa

O início de muitas das grandes e endividadas startups de hoje, e que jamais deram lucros, foi uma festa. Lucro? Esquece… Quem ocupasse o terreno mais rápido seria o vencedor e mais adiante cuidaria de reverter os prejuízos, recuperar os investimentos, e tentar voltar a uma situação de normalidade. Mais ou menos. No desespero de ocupar espaço sacrificando preços, pagando para prestar serviços, muitas novas empresas ficaram pelo caminho. E agora, diante da inquietação, desconforto, incômodo, revolta, dos acionistas, as novas empresas que jamais passaram perto de um azul, que navegam num oceano vermelho, tentam sobreviver procedendo a reajustes regulares e crescentes nos preços. Na opinião de Kevin Hoose, em artigo no New York Times, de 2012 até 2020 capitalistas ricos do Vale do Silício financiavam e bancavam muitas das atividades das grandes cidades. Aplicativos como Uber e Lyft, por exemplo, arcavam com parte do valor das corridas que faziam. Em seu artigo, Kevin lembra de um dia que decidiu fazer um passeio, no início da década passada e chamou um Uber. Na hora de pagar, o que na sua cabeça e experiência custaria entre US$ 60 ou US$ 70 custou-lhe US$ 14… Nos Estados Unidos existiu uma empresa que era uma espécie de assinatura que valia para o ingresso em todos os cinemas, a MoviePass. Os que assinavam seus serviços poderiam ver um filme por dia no cinema que quisesse por um preço inicial de assinatura de US$ 50 e que no final, e no desespero, caiu para US$ 10. Quebrou feio sem jamais ter chegado próximo de qualquer manifestação de vida saudável. Conclusão, a hora da verdade, acelerada pela pandemia, chegou. Os acionistas não aceitam esperar mais para que as empresas em que investiram saiam do vermelho e assim, nos próximos meses e anos, assistiremos uma escalada nos preços. Nos Estados Unidos, e em alguns outros países, os preços das corridas por Uber ou outros aplicativos subiram em média 40% do ano passado para este ano. Assim, amigos, curto e grosso, a temporada de festas terminou. E só agora teremos a possibilidade de conferir se muitos desses negócios eram e são pra valer, ou apenas flutuavam em bolhas descomunais de descontos e prejuízos. Ou, como diz o Ratinho, e se de verdade, a maioria deles eram de negócios que não tinham e jamais tiveram café no bule…
Negócio

Hudson Yards

Hudson Yards, finalmente, reabriu. Já era tempo! Mas o The Vessel, não. Talvez, nunca mais… Dentre as ousadias que se comete na ilha de Manhattan, mais conhecida por todos como New York City, o empreendimento épico Hudson Yards foi a maior das mais recentes, e uma das maiores de todos os tempos! Projeto desenvolvido no correr de duas décadas, e como sempre acontece naquela cidade-ilha e uma vez em pé, Hudson Yards resgataria uma área envelhecida e abandonada numa ilha/cidade onde cada centímetro conta. Lembrando que a Nova York de nossos sonhos e visão, de verdade mesmo é uma pequena ilha mais conhecida como Manhattan, um pequeno território de três quilômetros de largura por 21 de comprimento… Rodeada por quatro barrows ou distritos: Bronx, Queens, Brooklyn, Staten Island. E depois de muitos investimentos e anos, finalmente, a primeira etapa de Hudson Yards foi inaugurada no mês de março de 2019. Jamais passou pela cabeça de seus corajosos empreendedores, que um ano depois um vírus varreria o mundo e, na melhor das hipóteses, colocaria o mais ambicioso projeto das últimas décadas da ilha, em total hibernação. Numa área de 56 mil metros quadrados, com torres residenciais, escritórios, praças, jardins, shopping centers, restaurantes, projetados por alguns dos principais arquitetos de todo o mundo, e tendo como praça central e ponto de atração e convergência o The Vessel, o Vaso, uma pirâmide oca dos tempos modernos, de ponta cabeça, para que as pessoas subissem aos céus por 2.500 degraus, e contemplassem a ilha, capital do mundo, New York City. The Vessel, 154 lances de escadas interconectadas, 80 patamares, 2.500 degraus em espiral, como a vida, até chegar-se a um insuspeito céu, aos 45 metros de altura… New York Times, sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021, Manchete do New York Times “A pandemia devasta e deixa ao abandono um projeto de US$ 25 bi”. Vamos começar a narração da devastação provisória de Hudson Yards, pelo The Vessel. Projetado e construído como uma homenagem à vida, nos caminhos trôpegos e tortuosos que temos percorrido durante a pandemia, acabou se convertendo numa plataforma para suicídios. Foram três. Deveriam ser muito mais… Antes os suicidas saltavam das pontes que ligam Manhattan aos demais distritos ou barrows. Passaram a atirar-se do The Vessel! Conclusão. Fechado sem nenhuma perspectiva de reabertura. Centenas de apartamentos permanecem aguardando por compradores e inquilinos. No shopping que ainda encontrava-se em processo de ocupação, e depois de seu primeiro Natal – diz-se que um shopping só decola para valer depois do terceiro Natal – muitas das poucas lojas que abriram já fecharam. Agora, no último Natal, reabriu, mas com pouca presença de público, de uma cidade ainda aguardando pelos seus quase 50 milhões de visitantes/ano. Neiman-Marcus, em princípio a grande atração do empreendimento, mergulhou na crise em todo o país, declarou falência, e fechou permanentemente. O mesmo acontecendo com lanchonetes e restaurantes… E a segunda fase do projeto, com mais oito torres, escolas, apartamentos de luxo, torres corporativas, a espera de melhores dias e perspectivas. O Hudson Yards foi planejado durante 30 anos. Com o objetivo de resgatar uma área abandonada da ilha, entre a Pennsylvania Station e o Hudson River… Dias melhores virão, a vacina trará o mundo de volta, depois chegarão os remédios, e cinco ou dez anos depois o Hudson Yards seguirá seu destino de ser uma das mais importantes dentre as novas atrações da cidade que nunca dorme. Mas, jamais nos esqueceremos de um mundo onde algumas pessoas, devastadas pelo vírus, e aprisionadas pelo medo, optaram por lançar-se da pirâmide moderna, o The Vessel, projetada e construída para celebrar a vida… Em tempo, e dentre os principais investidores de HUDSON YARDS, eles, como em quase tudo, os chineses…
Negócio

Reaprendendo a andar, ou, o medo

Mais ou menos isso que estamos testemunhando quando empresas e países ensaiam um segundo/terceiro retorno mais consistente à normalidade. Atenuado o perigo da contaminação, com a vacinação em massa. Em verdade, já no ano passado, 2020, alguns governos decidiram estimular seus cidadãos a retomarem suas atividades profissionais e seus hábitos pessoais. Voltar organizadamente ao trabalho, para as ruas, compras, restaurantes, parques. Mas as pessoas resistiram. Os que nunca deram muita importância aos riscos e mantiveram, sob o olhar dos outros um comportamento rebelde e irresponsável, seguiam na mesma e suposta irresponsabilidade. Mas, a maior parte supostamente responsável, que ouviu e obedeceu ao “fique em casa”, recusava-se, ou morria de medo de sair. Tipo gato escaldado tem medo de água fria. O perigo maior, em tese já passara, mas as pessoas não acreditavam e permaneciam entocadas. E aí o New York Times decidiu conferir, por exemplo, as ações de encorajamento e motivação promovidas pelo governo britânico. E dentre essas, e para que as pessoas sentissem-se estimuladas a sair para a rua, o governo britânico, em meados do ano passado, decidiu pagar 50% das contas dos restaurantes. A promoção teve como título: “Todos comendo nos restaurantes e lanchonetes”, e ocupou todo o mês de agosto. As ruas foram fechadas aos carros, as mesas foram para ruas e calçadas, e uma grande festa aconteceu no país, muito especialmente na capital, Londres. Nas primeiras três semanas de agosto de 2020 foram 64 milhões de refeições dentro da promoção, ou, programa, “Eat out to help out” – Coma fora para ajudar. Naquele momento prevalecia o seguinte raciocínio. 1,8 milhões de pessoas trabalhavam na chamada indústria da hospitalidade, e, se essa roda não voltasse a girar, todas as demais e em diferentes proporções seguiriam trôpegas. Pelo inusitado da situação, e absolutamente incapaz de lidar com semelhante fenômeno, o governo britânico recorreu aos aconselhamentos dos profissionais e autoridades das ciências do comportamento. Dentre outras pessoas, e na cobertura da ação promocional, o New York Times entrevistou Ivo Vlaev, da Warwick Business School, e que é, em tese, uma das maiores autoridades sobre o assunto. Segundo Ivo, e depois de meses entocados, e assimilando novos comportamentos, as pessoas precisam ser submetidas a consistentes estímulos para reconsiderar, e fazer um primeiro e novo movimento na direção contrária. Assim, o agosto londrino da meia “boca livre” fazia todo o sentido. As pessoas voltariam a ter o gostinho dos prazeres de frequentar restaurantes, de comer bem, e de se confraternizarem com seus amigos. Depois de algum tempo, e com a repetição sucessiva da ação, existiria uma forte possibilidade de se resgatar o comportamento anterior à pandemia. Em verdade, dizia Ivo, tão importante quanto fazer com que as pessoas perdessem o medo ou readquirissem confiança retornando ou redescobrindo as mesas dos restaurantes, era fazer com que deixassem suas tocas, casas, esconderijos e voltassem a sair. O maior desafio, segundo Ivo, era convencer ou sensibilizar as pessoas a saírem de suas tocas. E depois, e num segundo momento, ficaria mais fácil e possível convencê-las a voltar ao trabalho. Meses depois da promoção veio uma nova onda e tudo voltou quase que a estaca zero… É esse o desafio que espera por todos nós, brasileiros, quando conseguirmos acelerar na vacinação. Tirar a espada do medo sobre a cabeça de milhões de brasileiros que terão, enormes dificuldades, em ensaiarem e protagonizarem a volta. Dentre todas as coisas que mais nos surpreenderam nesta pandemia, a todos nós, consultores da Madia, foi constatarmos como as pessoas, quase todas, têm medo. Muito medo. E como o fator medo talvez seja o maior condicionante no comportamento de todas as pessoas. Muito mais, mesmo, que a coragem…