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Jair Messias e Djokovic, ou, empresas não têm nem tempo nem competência para mudar quem quer que seja

Tudo que uma empresa precisa fazer é definir um phocus. E entenda-se por phocus aquele conjunto de pessoas que por uma série de atributos – sexo, idade, renda, preferências, vontades, ambições, insiram-se de forma perfeita, se possível, nos serviços que a empresa/produto se dispõe a prestar. E depois, e devida e competentemente estimuladas, comprem. É isso ou tudo isso. Nenhuma empresa por maior e mais poderosa que seja tem competência para mudar o que, e quem quer que seja. Nenhum ser humano tem essa possibilidade ou poder. De certa forma, e como diz a lenda, e as melhores práticas e experiências, já nascemos prontos. Claro que a educação que nos é dada é da maior importância e colabora decididamente para enfatizar nossas componentes positivas, e atenuar ou corrigir os tais defeitos de nascença. Mas no fundo, como compôs e cantava Belchior, “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais…”. Assim é a vida, assim é o mundo, e tudo mais é perda de tempo. Seres humanos apaixonam-se por outros seres humanos na certeza que permanecerão juntos pela vida, e que serão felizes para sempre. O que a realidade tem nos revelado é que seres humanos apaixonam-se pela imagem que criam de outros seres humanos, e não necessariamente pelo ser humano em si. Aquela pessoa tal como ela é. E por essa razão, e invariavelmente quando a realidade se impõe, muitas relações desfazem-se e cada um segue para seu lado. Qualquer outro entendimento e reflexão não passa de perda de tempo e decepções inevitáveis. E essa compreensão é da maior importância para todas as empresas quando definem seus phocus. Não podem acreditar por um único momento que o produto que estão lançando conseguirá mudar as aspirações e características das pessoas. Excepcionalmente isso pode até acontecer, mas, 99% dos “cases de sucesso são produtos e serviços que verdadeiramente encaixaram-se nas maiores e melhores expectativas das pessoas inseridas no phocus e mereceram a preferência empolgada das pessoas”. Neste momento dois exemplos espetaculares nos ensinam, pela infinitésima vez, que ninguém tem a capacidade de mudar quem quer que seja. Os brasileiros, parte deles, elegeram Jair Messias Bolsonaro que jamais escondeu o que verdadeiramente era. Mesmo que quisesse esconder os sete mandatos de deputados – de 1991 a 2018 ‒ revelavam tudo. Nem melhor, nem pior, apenas o mesmo Jair Messias de sempre. E passaram a cobrar do produto que compraram, que se comportasse e prestasse serviços que não tem absolutamente nada a ver com suas competências e características. O segundo exemplo é de um dos melhores tenistas dos últimos anos, o sérvio Novak Djokovic. Sabem-se lá por quais razões as pessoas acreditavam que o divertido e de certa forma irresponsável tenista, com a posição e o tempo converter-se-ia num anjo. Todos mais que enganados. Continua o mesmo demônio de sempre. Em meio a pandemia organizou torneios com mais de 4000 pessoas nas quadras, participou dos eventos sem usar máscaras, declara-se contrário às vacinas, “zoou” com os apavorados falando que o covid era transmitido pelo 5G, e culminou nocauteando uma juíza de linha, ao lançar uma bola com muita força, e sem olhar, para trás… Dias depois de retornar as quadras por ter contraído o tal do covid. É isso, amigos. Somos como somos e é a partir do como somos e não como as empresas gostariam que fôssemos é que começa o jogo. E, depois, é jogado. Tudo mais é delírio, perda de tempo, decepções infundadas, cobranças e expectativas improcedentes. Jair Messias seguirá Jair Messias, e Djoko seguirá Djoko até os finais dos tempos. Ainda que alguns alimentem a tola expectativa de um milagre.
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Delirius Digital Tremens

Supostamente o beato Antonio Conselheiro teria previsto, que, “o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”. Quando olhamos no que se apresenta, e vemos a Nestlé e a Unilever atropelando desembestadas a cadeia de valor e vendendo direto ao tal do consumidor final, leia-se, nós, pelo Facebook, começamos a sorrir de nervosismo. Quando do dia para a noite os grandes bancos são atacados por milhares de bichinhos chamados fintechs, e que até ontem eram lojas, sites, farmácias, barracas de feira, sorveteiro da esquina e todos os Zé Manés possíveis e inimagináveis, abrimos um sorrisão, mas nossas mãos tremem. Quando as casas de leilões de móveis, geladeiras, fogões, tapetes, recusam-se a receber mercadoria porque não têm mais onde literalmente enfiar, tão grave é a ressaca da coronacrise já não conseguimos nem mesmo esboçar um sorriso. Quando João Doria e Jair Bolsonaro se estapeiam na disputa de uma luta de boxe só programada para novembro de 2022, começamos a nos coçar e ter vontade de espancar os irresponsáveis. Mas, de repente, e quando chegamos mais perto, o Doria que tem uma casa de um quarteirão nos Jardins e um Palácio no Morumbi, de dedo em riste, cuspindo fogo pelos olhos e de chicote nas mãos manda os miseráveis trancarem-se em seus barracos e cubículos, e Bolsonaro, em sua tosca normalidade, manda demitir todos os que os cercam exclusive e tão somente seus santos filhos começamos a colocar em dúvida nossa sanidade mental. Onde foram parar as almas abençoadas e generosas? As pessoas de boa-fé, dotadas de imensa compaixão e infinita empatia? O gato comeu? Em 20 anos cinco empresas, as tais das big techs apoderaram-se do mundo. Incomodava-nos, antes, vizinhos bisbilhoteiros que sempre encontravam um jeito de invadirem nossas vidas. E palpitarem… Hoje, sorrimos de felicidade, entregamos tudo, numa boa, de uma forma mais absurda do que os índios encantados com pentes e fivelas. E quando circunstancialmente, assim como no filme Awakenings, temos breves despertares e esboçando alguma reclamação, as top five nos mandam calar a boca mesmo porque elas não têm nada com isso, mesmo porque e quando perguntados se aceitávamos, dissemos, açodados e excitados, Sim! Sim! Sim! As top five são capazes de prever com uma margem de erro inferior a 1% o que vamos comprar nas próximas horas, quando soltaremos o próximo pum, e se as eleições fossem hoje, com absoluta certeza e precisão o nome dos vencedores. A AI – Artificial Intelligence – mais que encontrar todas as respostas é capaz de fazer perguntas que somos incapazes de formular, e assim, descobrir coisas sobre os carneirinhos, nós, que jamais consideramos. Mas um dia… Diminuímos na bebida e nos intoxicamos nas redes sociais. DDT – Delirius Digital Tremens! Assim, e na primeira metade desta década, o mundo passará por uma geral, acionando um megafreio de arrumação. Joana I, rainha de Nápoles e condessa da Provença, estipulou os estatutos dos bordéis de Avinhão. E notabilizou-se por ser a proprietária da casa mais famosa do mundo, a Casa da Mãe Joana. E que é onde hoje estamos todos, provisória e precariamente, morando. Assim, chegou a hora do pit stop. Para uma água, regulação, antes de seguirmos em frente. E das big techs voltarem à Terra, respeitar incautos, ingênuos e inconsequentes, e, como dizia o Pequeno Príncipe, serem responsáveis pelos tontos que cativaram com muita tralha, bugigangas, e coisas extraordinárias e espetaculares.