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Negócio

O fim das linhas divisórias

Durante anos, décadas, o editorial e o comercial das publicações não se falavam. Qualquer encontro entre o Editor ou Redator Chefe, e o Diretor Comercial de uma publicação pegava mal. E assim seguia a vida. Com o passar dos anos e das décadas essa Chinese Wall foi se desfazendo, e, a forma de flexibilizar isso, até a virada do milênio era o chamado Publieditorial. Matérias pagas pelas empresas, submetidas previamente aos editores das publicações, e só depois aprovadas para ganharem vida sendo publicadas, mediante gigantescos avisos e advertências de tratar-se de material publicitário. Da virada do milênio para cá, com o advento das plataformas digitais, com novos usos e costumes, com a decadência da chamada mídia impressa – é suficiente lembrar-se o que aconteceu com a Editora Abril que chegou a ter 300 revistas, quebrou, e hoje mantém mal e precariamente menos de 10 – a flexibilização chegou ao limite máximo, se forçar um pouco mais quebra e as plataformas perdem por completo a credibilidade. Conclusão, as empresas jornalísticas decidiram assumir e passarem a oferecer o antigo publieditorial, agora rebatizado de Brand Content, e produzido por uma equipe de jornalistas, redatores e profissionais de comercialização dos próprios veículos de comunicação. Nos últimos 10 anos as duas equipes, jornalistas do editorial, e redatores e criadores do Brand Content conviveram a razoável distância e total respeito. E agora, as barreiras diminuem ainda mais. Meses atrás, e para começar no final de semana seguinte, e aconteceu, Valor anunciava um Caderno Semanal sobre o Mercado Imobiliário de Alto Padrão. A notícia estava no editorial de Valor, o caderno tem a denominação Imóveis de Valor, e a primeira edição circulou na sexta-feira, 15 de outubro, nas edições impressa e digital. É isso, amigos. Uma espécie de última e derradeira tentativa de estancar uma sangria de 30 anos, que vem minando as plataformas analógicas, muito especialmente aquelas que passam por papel, tinta, e distribuição física. Lembram de Edgar Allan Poe e seu corvo… Isso mesmo, e, infelizmente, nunca mais… Ou será que sobrevivem?
Negócio

Exame, 52 anos depois

Na edição que circulou no início do ano passado, quando ninguém ainda sabia sobre uma tal pandemia, edição de número 1201, datada de 22 de janeiro de 2020, processou-se o ritual de passagem da Família Civita, para o BTG Pactual. Fim de um ciclo de 52 anos de uma publicação, a revista Exame, que marcou, integrou, influenciou, formou, e contribuiu, para a modernização e profissionalização do business no Brasil. Naquela edição, que foi a da passagem, um editorial otimista que começava afirmando “Há boas razões para otimismo em 2020, e elas se encaixam basicamente em dois campos. No primeiro, as condições gerais da economia brasileira. Embora e sempre sujeita a um contingente de incertezas, as perspectivas são boas: juros baixos, inflação sob controle, expectativa de prosseguimento das imprescindíveis reformas…”, e por aí seguia o editorial… E encerrado o editorial, e no rodapé, a nota que completava o título do editorial Motivos para Otimismo: “Também para Exame o ano de 2020 apresenta perspectivas alvissareiras. Após 52 anos de existência como uma marca da Editora Abril, Exame foi recentemente adquirida pelo grupo BTG Pactual. A mudança de controle deverá implicar novos investimentos e um consistente impulso para manter a mesma missão de sempre: jornalismo independente e de qualidade…”. Tudo começou no mês de julho de 1967, a então Editora Abril decide agregar as suas chamadas revistas técnicas Transporte Moderno, Máquinas e Metais, e Químicas e Derivados, um suplemento sobre administração e negócios. Segundo o diretor responsável pelas “técnicas” naquele momento, Renato Rovegno… Uma tentativa de ampliar o horizonte dessas publicações. Só que, o suplemento pela sua relevância, deixou de ser, muito rapidamente o coadjuvante e complementar e foi gradativamente tomando conta de todo o palco. Os leitores cobravam mais informações e páginas do suplemento, e as empresas preferiam ver seus anúncios em suas páginas. Em anos o suplemento engoliu as técnicas e tudo virou Exame. O filho ficou tão grande e poderoso que não se conformava mais em ser “sufocado” por três mães. Ganhou independência, periodicidade mensal. Exame, A Revista. No início, o editorial da revista padecia dos excessivos cuidados das empresas. Muitas, e através de seus diretores e profissionais, acreditavam que conceder entrevistas e aparecer em suas páginas significaria entregar o “ouro” informações aos “bandidos” concorrentes. E os comandos de Exame foram se sucedendo. Mino Carta, 1972; de 1973 a 1976, Paulo Henrique Amorim e Exame tornando-se quinzenal a partir de abril de 1976. De 1976 a 1987 Guilherme Veloso e Rui Falcão. A partir de 1988, José Roberto Guzzo, Antonio Machado de Barros… E as edições vão se multiplicando assim com dezenas de outras iniciativas da revista que pautava os grandes temas do ambiente de negócios em nosso país… No ano de 2018, a Editora Abril mergulha em crise final e irreversível, e no mês de dezembro de 2018 e nas principais plataformas de comunicação do País a notícia: Grupo Abril, dono da Veja e da Exame, foi vendido por R$ 100 mil… Ao empresário Flavio Carvalho, especialista em aquisição de empresas quebradas e reestruturação… Fim do grupo fundado por Victor Civita em 1950. Um ano depois, dezembro de 2019, vem a informação. Nesta quinta-feira, 05 de dezembro, a revista Exame do Grupo Abril, por R$ 72.374 milhões, foi comprada pelo banco BTG Pactual, através de leilão… Encapando o exemplar recebido pelos assinantes da edição 1201 de 22 de janeiro de 2020, a seguinte carta assinada por Carlos Fernando Nogueira, Diretor de Assinaturas do Grupo Abril… “O Grupo Abril vem, por este comunicado, confirmar a venda da revista Exame para o Grupo BTG Pactual. Esta venda foi realizada por meio de leilão judicial, na data de 05 de dezembro de 2019, como parte do processo de recuperação judicial da companhia. O Grupo Abril agradece imensamente a oportunidade de ter tido você como leitor fiel a este título. Ao longo destes 52 anos de história, o Grupo Abril foi responsável por cobrir a transformação da agenda de negócios do Brasil. Sua missão sempre foi levar a seu público leitor informações e análises aprofundadas sobre temas e setores diversos, de maneira íntegra e independente. Não há dúvidas de que os novos responsáveis pela marca Exame continuarão se pautando pelos mesmos valores. Suportaremos o novo responsável neste período de transição, apoiando também você, leitor, nesta mudança. Vale destacar que não é necessário tomar qualquer ação com relação à sua assinatura atual. As condições de entrega de conteúdo, sejam elas através das revistas impressas ou dos canais digitais, permanecerão as mesmas. O Grupo Abril se coloca à inteira disposição para o esclarecimento de dúvidas, através de seu SAC. Cordialmente, Carlos Fernando Nogueira, Diretor de Assinaturas do Grupo Abril…”. O que viria daí para frente? A pergunta que todos fizeram naquele momento. Chegava ao fim o primeiro grande e glorioso ciclo, de contribuições inestimáveis, e no correr de 52 anos. Agora caminhamos, mais alguns meses, em verdade quase dois anos, de uma Nova Exame. Nova, sim, porque transformou-se em uma revista bem diferente da original. Nem melhor, nem pior mesmo porque a comparação é impossível. Diferente. Menos matérias curtas, mais e poucas matérias longas e completas, quase ensaios sobre determinados setores de atividade e assuntos. De qualquer maneira, a velha Exame, no seu velho e tradicional formato, continua fazendo imensa falta.