O day after coronavírus, das pessoas…

Quase impossível pessoas terem um mínimo de cabeça para começarem a conversar sobre os dias pós-crise, mesmo às vésperas da vacinação. Quando a pandemia estiver sob controle e precisarmos olhar para frente, e dar início a reconstrução, aí sim, sentiremos a dimensão do estrago.

Temos testemunhado momentos como esses em nossa vida e a distância, uma vez que essa realidade é comum a uma minoria, e, quase sempre, pessoas e famílias desprovidas de recursos. Quando ocorre alguma tragédia natural, chuvas fortes, enchentes, desabamentos, por exemplo, e, em minutos ou horas, perdem tudo do pouco que tinham. No que viraram a cabeça, ou, abriram os olhos, fim! E têm que recomeçar do zero. Algumas pessoas e famílias, pela segunda vez… É o que nos aguarda para os próximos meses, em maiores ou menores dimensões.

Em termos materiais, com sorte e competência, e acima de tudo resiliência e esperança, no correr dos anos concretizaremos a recuperação. Seja essa recuperação qual for. Mas, e para que isso aconteça, a cabeça precisa, custe o que custar, permanecer no lugar. Assim, muitos já começam a refletir sobre como sairemos, como pessoas, e psicológica e mentalmente, dessa crise.

Luciana Medeiros, do jornal O Globo, conseguiu entrevistar Andrew Solomon, escritor e professor de psicologia, e autor de um dos livros de maior sucesso em todo o mundo sobre depressão, O Demônio da Meia-Noite, lançado no ano de 2000 e publicado em 25 idiomas. O curioso é que Andrew viveu, semanas atrás, um momento de grande tensão.

Depois de participar do evento da American Group Psychotherapy Association, no início de março, com centenas de pessoas, onde vendeu, autografou e se confraternizou corpo a corpo com mais de 70 pessoas, começou a se sentir mal. Desmarcou todos os compromissos, e teve dificuldade em encontrar vagas nos hospitais de Nova Iorque. Sentiu-se mal, veio a tosse, febre, cansaço e optou pelo confinamento. Foi diagnosticado com pneumonia, e recorreu a repouso e antibióticos. E, curou-se. Conversou com a Luciana Medeiros. Vamos conferir agora suas mais importantes reflexões, recomendações e advertências.

  • Sobre se o atual isolamento a que estão submetidas milhões de pessoas pode levar a uma depressão coletiva diz ele, “Esqueceremos a crise, assim que for superada. O trauma, não; permanecerá! A maior parte das pessoas que nasceram em países dominados pelo nazismo, por exemplo, são mais susceptíveis a doenças mentais na sequência de suas vidas. Somos criaturas complexas, programadas para competir no árduo processo de seleção natural e, como grupo, para nos somarmos diante dos desafios da vida. Sem essa energia gregária seria impossível cidades, governos, aviões, amor. Mas, e simultaneamente, existem pessoas que compram todo o estoque de álcool gel para lucrar. Enquanto profissionais da saúde não pensam duas vezes em arriscar suas vidas para salvar a dos outros. Todos temos os dois impulsos. Mas, e na maioria, a civilização humana é pródiga em gentileza e generosidade. E tem consciência de que sem nos ajudarmos a maioria de nós vai morrer…”.
  • Se isolamento é causa ou consequência de depressão ‒ Diz Andrew, “Depressão é doença de solidão. E assim, solidão é causa e sintoma. Meu primeiro episódio de depressão foi aos 25 anos. Meu pai me levou para sua casa. Essa decisão, mais terapia e medicação, salvou a minha vida. É comum um deprimido verbalizar que não suporta a presença de pessoas, mas, deixá-lo só, é um tremendo erro”.
  • Métodos para minimizar as possibilidades de depressão. Em especial, nos mais velhos. “O que está acontecendo na China é uma ótima reflexão. Psicólogos e psiquiatras foram deslocados pelo governo chinês para a cidade de Wuhan, o epicentro global e gênese da pandemia. Cuiyan Wang, uma dessas profissionais deu o seguinte depoimento: ‘Durante a fase inicial, mais da metade das pessoas classificou o impacto psicológico decorrente do vírus, como algo entre moderado e grave. E um terço manifestou ansiedade severa’”.

A partir de sua experiência recomendou uma série de procedimentos, muito especialmente aos Estados Unidos, e com a concordância do CDC – Centro de Prevenção e Combate a Doenças daquele País. Mas, o governo americano priorizou as componentes físicas e só depois, disse, cuidará dos cuidados psicológicos. Assim terapeutas voluntários vêm atendendo as pessoas naquele país.

  • Efeitos do Confinamento “As quarentenas pelo mundo criam situações complicadas. Os relacionamentos verdadeiramente sólidos se fortalecerão. Os frágeis, não resistirão. Definitivamente, agora não é o momento de discutir relações…”.
  • Depressão nos mais pobres “A comunidade pobre é quem mais sofre. Nos mais pobres o Covid-19 vai se espalhar a semelhança de um rastilho de pólvora. Nas classes média e alta as pessoas sentem-se no controle por poderem lavar as mãos desinfetar objetos. Já os pobres, que não têm essa possibilidade, são muito mais sensíveis aos riscos e depressão…”.
  • Se a internet, ajuda ou atrapalha… “Além de trazer muito lixo em termos de informação, ainda produz pessoas de olhos vidrados e coladas no celular o dia todo. Mas, e mesmo assim, e em situações de isolamento, é melhor ter do que não ter internet. Conversar, ter notícias, manifestar sentimentos, sentir-se vivo. E ainda, distrair-se com diferentes conteúdos…”.

No final, a Luciana, e no capítulo de um dos atenuantes que Andrew Solomon recomenda, que é recorrer a conteúdos relevantes no digital, pediu indicações… E Andrew recomenda, dentre outros… “O MET – Metropolitan Museum de Nova York tem um maravilhoso programa online, e o Museu Dorsay uma incrível coleção de impressionistas acessível pelo notebook, tablet, ou smartphone”. No território dos livros a recomendação dele é “Um Diário do Ano da Peste”, da autoria de Daniel Dafoe.

E para os que procuram descontração e o caminho do escapismo recomenda toda a obra de Jane Austen. “E ainda indica as conferências no TED, e os Living Room Concerts, promovidos pela revista Broadway World, e acessíveis pela internet…”.

É isso amigos. No Day After, e principalmente agora onde ainda nos encontramos a razoável distância desse momento, é preciso nos mantermos íntegros, intelectualmente, e tomarmos todos os cuidados e providências para nos preservarmos ao máximo e na medida do possível, saudáveis, mentalmente.

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