A nova Globo, por enquanto, é uma grande interrogação. Já se revelava um projeto de difícil execução, um desafio gigantesco diante de uma situação de liderança de décadas, e colocada à risco e à prova pelo tsunami tecnológico. E para agravar o processo, a pandemia.

Os irmãos Marinho escolheram um ex-consultor, com carreira consistente em diferentes empresas, para pilotar a transformação. Jorge Nóbrega, 66 anos, Jorge Luiz de Barros Nóbrega.

Jorge chegou à Globo pelas mãos de Marluce Dias, com quem trabalhou e conheceu na Mesbla. Marluce contratou Jorge para preparar a sucessão na empresa. Assim, e desde 1997, Jorge começou a construir seu caminho na Globo, trabalhando diretamente com Roberto Marinho. Em pouco tempo uma de suas recomendações foi aceita, a de que os filhos de Roberto – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – deixassem os comandos executivos de empresas e atuassem através e exclusivamente do Conselho.

Hoje, e encarando uma pandemia pelo caminho, comanda a implantação e execução do projeto Uma Só Globo.

Talvez, e no ambiente corporativo, pelas circunstâncias, pelas características de uma organização onde o lado artístico é muito forte, e por uma liderança de décadas agora fortemente contestada por concorrentes que chegaram e foram tomando conta do espaço como se fossem habitantes de outros planetas – as Big Techs – Jorge Nóbrega tem pela frente o maior dentre todos os desafios que algum profissional enfrentou nos últimos anos.

De como recuperar uma empresa que durante 50 anos manifestava sua competência exclusiva e única de conversar e conhecer o comportamento superficial dos brasileiros, diante da chegada de Big Techs que passaram a conviver intimamente com esses mesmos brasileiros, mas, e diferente da Globo, sabem com antecedência, do que gostam, com o que simpatizam, e o que pretende fazer daqui a segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Para onde estão indo, onde estiveram, e de onde estão voltando nos últimos minutos… Uma competição absolutamente desigual…

Meses atrás, Jorge Nóbrega concedeu longa entrevista ao jornal Meio & Mensagem. E, em nosso entendimento, repetiu um equívoco devidamente registrado no manifesto que dá a partida para a estratégia: Uma Só Globo.

Num determinado momento da entrevista, Jorge, reitera, com todas as letras, que,

“A Globo tem dois corações: nosso conteúdo e nossa tecnologia”.

Não, não tem. Até agora a Globo teve exclusivamente um único e monumental coração, o Conteúdo – de longe, um dos três melhores do mundo. Já Tecnologia, não, mesmo porque tecnologia é ferramenta, é estrutura, é corpo, nada a ver com coração.

Em um momento da entrevista, Jorge detalha a estratégia para atravessar 2020, o primeiro ano da pandemia, os anos seguintes, e que traz reflexões da maior importância sobre como uma empresa deve proceder em crise de tamanha dimensão;

Diz Jorge, “2020 foi um ano particularmente difícil mesmo porque, e antes da pandemia, a economia do Brasil já encontrava-se em desaceleração… Quando chegou a pandemia a empresa tinha acabado de se juntar numa única estrutura e precisávamos continuar investindo em nossa transformação… Houve uma tremenda crise no mercado publicitário e, em alguns meses, principalmente abril, maio e junho, chegamos a ficar com uma receita 30% abaixo do previsto. Assim, avalio que não obstante tudo, tivemos em 2020 um resultado excelente…

O Ebitda – lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações – foi de R$ 688 milhões, uma receita de R$ 12,5 bi – R$ 1,5 bi menor que a de 2019 – mas, e em compensação, uma grande redução de custos… Assim, e no final, conseguimos ter lucro…

Sobre a situação econômica do grupo, Jorge disse, “Terminamos o ano com R$ 13,5 bi em caixa. E não compramos ou renovamos alguns direitos por questão de racionalidade. Mesmo assim seguimos com a Copa do Mundo, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e outros direitos no território dos esportes…”.

Sobre cortes e contratações – “Na maioria das áreas tivemos reduções entre 10% e 30%. Mas também tivemos áreas que cresceram como a de serviços digitais com um grande Hub Digital. O objetivo do Uma Só Globo não foi de maximizar cortes, mas, adequar a empresa aos novos desafios de negócios que passou a ter…”.

É isso, amigos. Uma empresa gigantesca, a maior de seu setor de atividade, enfrentando todos os desafios de um novo mundo pela frente, e ainda acelerado pela pandemia.

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