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O desvastador negócio da aviação comercial

Neste preciso momento assistimos, perplexos, uma queda de braço entre o governo brasileiro e as aéreas. O governo fazendo todos os malabarismos e dando todas as desculpas para não socorrer as aéreas. E as aéreas repetindo que se encaminham para uma quebradeira geral. E, desgraçadamente, a realidade é essa. Se em tempos de céu de brigadeiro e tudo dando certo na vida as aéreas já não é fácil, na medida em que 80% de suas vidas depende das chamadas variáveis exógenas, sobre as quais não tem nenhum controle – tempo, chuvas, preço do combustível, judicialização especificamente no Brasil – e muitos outros complicadores a mais. Depois de uma pandemia que condenou todos os aviões a permanecerem estacionados por meses, não há milagre capaz de resgatar o mínimo da saúde econômica dessas empresas. Assim, e mesmo reconhecendo que governos jamais deveriam intervir e ajudar empresas privadas, sem a menor dúvida, o negócio da aviação, em momentos de calamidade como é o caso, não existe outra alternativa. Ou o governo apoia, ajuda, assume sua responsabilidade, ou ficaremos literalmente a ver navios, na medida em que as aéreas encerrarão suas atividades. Isso mesmo, no popular, quebrarão. Não existe milagre natural capaz de salvar Latam, Gol, Azul. E isso é tudo. Para os de curta memória, e para lembrar das fragilidades do setor, é suficiente resgatar o ranking das aéreas em nosso país no mês de junho de 2001, 23 anos atrás. A líder tranquila era a Varig com 39,1% do mercado, vindo a TAM na segunda colocação com 27,7%, seguida pela Vasp com 13,8%, Transbrasil, 9,1%, Gol na quinta posição com 5,2%, e outras 5,2%. Como é do conhecimento de todos, Varig, Vasp, Transbrasil despediram-se para sempre, TAM virou Latam para sobreviver, e Gol engatinhava e agora definha. A novidade é uma Azul, hoje, completamente desbotada. Sem ironias. Essa é a realidade. Aviação, como business, é para desequilibrados. Atenção, 2001, o ano das duas torres. Os aviões ficaram parados por duas semanas. Imaginem agora, pandemia, onde ficaram parados por meses… A Transbrasil quebrou em 2002, a Vasp em 2005, e a Varig ingressou em recuperação judicial em 2005, e. nunca mais se recuperou… No mês de abril de 2020, dois meses depois do início da pandemia, Gol, Latam e Azul praticamente jogaram a zero seus voos. Sendo mais preciso, a Gol cortou em 92,6% sua capacidade de transporte, a Latam em 91%, e a Azul em 89%. Considerando-se que qualquer perspectiva de resultados positivos começa em 80% de ocupação, claro, com aviões no céu… E até hoje não se recuperaram, mesmo porque, e também por causa da pandemia e o trabalho a distância institucionalizando-se, perderam – para sempre – parcela expressiva de seus melhores passageiros – profissionais e executivos em viagem de trabalho. É isso, amigos. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Ajudar ou não ajudar as aéreas? Um país como o Brasil, de dimensões continentais, pode se dar ao luxo e a irresponsabilidade de abrir mão de suas aéreas, por mais debilitadas que se encontrem?
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Mais uma que se despede

Temos repetido, nós, consultores da Madia e à exaustão, que um dos negócios mais desafiadores que existe – em nosso entendimento o mais desafiador dentre todos – é uma empresa aérea. Se seus administradores fizerem tudo certo, se forem exímios no planejamento, craques na execução, o sucesso, bons resultados, dependem apenas e exagerando e no máximo, 20% deles. O restante 80% depende da sorte, do momento, das circunstâncias, das políticas dos países, da situação do mundo, e de uma série de outros fatores mais. Assim, as empresas aéreas, e na medida do possível, sobrevivem. Mas, em algum momento, inexoravelmente, deixarão de existir. Tempos atrás, mais uma das grandes empresas se despede. A Alitalia. Lembram? Depois de 74 anos, depois de mais de uma dezena de vezes ser resgatada da falência, depois de prestar inestimáveis serviços aos Papas, a Alitalia despediu-se, num voo interno, discretamente, partindo de Cagliari e fechando para sempre ao aterrissar em Roma. E, em seu lugar, uma nova empresa aérea, totalmente dependente do governo italiano. Nasceu, por ironia do destino, a ITA – Italia Trasporto Aereo – no mesmo momento em que uma nova empresa aérea decolava no Brasil, com a mesma denominação. A ITA do grupo Itapemirim. E da maneira como decolou, aterrissou, para nunca mais voar… Mas, e voltando à falência da Alitalia, em verdade, sobreviver 74 anos, ainda que com a retaguarda do estado italiano, foi uma proeza. Especificamente em decorrência da pandemia e dos aviões que tiveram que permanecer parados em terra, e por enquanto, 43 empresas aéreas foram a falência desde janeiro de 2020. Dentre outras que faliram, a Air Italy (Itália), AtlasGlobal (Turquia), Trans State Airlines (USA), Flybe (Reino Unido), Compass Airlines (USA), RAVN (USA), Germanwings (Alemanha), German Airways (Alemanha), Miami Air (USA), Avianca (Perú), Tame Ep (Equador), Latam (Chile), Air Georgian (Canadá), Level Europe (Áustria), Saint Express Deutschland (Alemanha), One Airlines (Chile), NokScoot (Tailândia), Tigerair (Austrália), Leeward Island Air Transport – Antigua, Shoreline (USA) Go2sky (Eslováquia), ExpressJet (USA), Air Asia Japan (Japão)… E sempre é importante lembrar das empresas gigantes da aviação comercial de todo o mundo que mergulharam inexoravelmente na falência, como, a: Panam, TWA, Laker, Ansett, Braniff, Eastern, Interflug, Transaero, Monarch, Sabena, Mexicana, Air Berlin… Sem não nos esquecermos das brasileiras Varig, Vasp, Transbrasil, Cruzeiro, Panair, Real, Lóide, Taba, Noar… Definitivamente, repetimos, o negócio mais desafiador do mundo. Em nosso entendimento, impossível de produzir um único vencedor, no médio e longo prazo. Mas… respeitamos os destemidos, por mínima, por menor que seja qualquer perspectiva de sucesso. Insistem em provar que uma empresa aérea sobreviver, no longo prazo, é uma impossibilidade absoluta.